“O papel da doente é manter a sua rotina e estilo de vida o mais saudável possível; o papel do medico é fazer algum controlo, exame objetivo, procura de queixas e os exames de rotina, mamografia e ecografia mamária, conjugando estes vários resultados em prol da saúde da doente.” Quem o afirma é a Dr.ª Gabriela Sousa, oncologista no IPO Coimbra, no âmbito da entrevista sobre as sobreviventes em idades avançadas.
A especialista começa por partilhar uma mensagem de motivação para as sobreviventes. “Viver cada dia o mais feliz possível.” Assista ao vídeo.
As sobreviventes mais idosas, sobretudo a partir dos 70 anos, devem ter alguns cuidados na sua rotina diária:
• Prática do exercício físico (“não precisa de ser ginásio; podem ser caminhadas”);
• Alimentação equilibrada baseada em cálcio e vitamina D, com foco nas verduras, leite e derivados;
• Hábitos de consumo saudáveis (não fumar e não beber)
• Pouca exposição ao sol
• Cuidado com a saúde do osso, com alimentação e exercício físico e exames de rotina;
• Comparecer às consultas de follow up.
No entanto, todas estas medidas devem ser respeitadas por sobreviventes, doentes e população em geral para diminuir a probabilidade de vir a ter doença, ou, por outro lado, de aparecimento de recorrência da doença. O primordial é “levar a vida o mais regrada possível, de forma a reduzir o risco de recorrências”.
A consulta de follow up é “bastante importante”. O acompanhamento regular, com exame clínico, sobretudo a observação da área operada e regiões ganglionares é fundamental. É para estas zonas que o tumor se pode disseminar e “estão debaixo dos nossos dedos”, por isso é de identificação fácil. A Dr.ª Gabriela destaca a avaliação mamográfica, com ecografia mamária e axilar anualmente como uma das mais importantes técnicas de imagem “com impacto na sobrevivência”. Estas consultas permitem ainda vigiar sequelas tardias dos tratamentos e a saúde do próprio organismo. Além disso, a atenção que cada mulher deve dar ao seu corpo, de forma a alertar precocemente caso note alguma alteração também é muito importante.
“Muitas vezes, estas mulheres fazem tratamentos que lhe agravam os sintomas da menopausa. Para combater essa situação, pode ser necessário recorrer a tratamentos médicos, mas o mais importante são medidas gerais (exercício, alimentação e regulação do padrão do sono) que ajudem a manter o seu ritmo de vida diário.”
Além disso, a terapêutica hormonal de substituição é um tema que poderia ter em consideração após o seu período menopáusico. No entanto, sendo uma sobrevivente de cancro da mama, e dado que a maioria dos cancros da mama em idade pós menopáusica são influenciados pelas hormonas femininas, “não está de todo indicado” recorrer a tratamento hormonais (estrogénios) para combater os sintomas da menopausa.
Por fim, a Dr.ª Gabriela Sousa reflete sobre quem é realmente sobrevivente do cancro da mama. Há definições que assumem como sobrevivente todas as pessoas que, em alguma altura da sua vida, tiveram um diagnóstico de cancro. Contudo, a população maior de sobreviventes são as doentes, que após tratamento com “intenção curativa, ficaram sem doença ativa”. No entanto, existem outras definições de sobrevivente, destacando as mulheres que, ao longo da sua vida, tiveram cancro “independentemente da fase de evolução da doença”.
A especialista reforça que outras populações estão a surgir e a merecer a nossa atenção. Hoje “muitas doentes convivem de forma bastante longa com doença avançada em tratamento ativo, com necessidades específicas muito diferentes das mulheres que terminaram o seu tratamento curativo”. Além disso, a oncologista destaca os coabitantes, a família mais próxima e os amigos como um terceiro elemento também eles podendo ser considerados “sobreviventes” pelo contacto próximo com esta doença.
A sobrevivência do cancro da mama aos cinco anos é superior a 90 %, destaca a especialista, no entanto, em doentes com idades avançadas, a percentagem não é concreta, por existirem comorbilidades associadas à idade que poderão interferir com o próprio tratamento do cancro da mama.
Neste sentido, garanta que cumpre todas as recomendações dos profissionais que integram as equipas multidisciplinares para manter a sua rotina de vida saudável e evitar intercorrências e complicações derivadas do tratamento ou desta complexa doença.